14.10.04

A lenda de Brotas

Tomado de: http://www.fortunecity.com/campus/ anthropology/275/lendas.html BROTAS Reinava-se, podia dizer, Rodrigo César de Menezes, capitão-general da Província de Mato Grosso, que abusava do poder, tal algoz da população, sedento de ambição de ouro e poderio. Era tão incongruente a sua conduta, extorquindo com altos dízimos a população, que grande leva de bandeirantes, desgostosos, saíam em caravanas, na demanda de outras plagas, onde pudessem desfrutar de melhores condições de vida. Famílias e mais famílias, procuravam galgar as serras do Leste, afastando-se cada vez mais da cidade, temendo a escolta do insaciável tirano. Em meio a um cerrado vistoso, de que é constituída a maior parte do território mato-grossense, algumas famílias resolveram fixar aí o seu acampamento. Enquanto as mulheres se desencumbiam dos seus misteres, acendendo o lume para preparar o repasto, os homens exploravam a nova terra, estudavam a região que os deveria acolher após a sua longa jornada. Amimados, os varões procuravam material e local propício para erguer as suas tendas. O achado era dos mais convidativos. A margem do Cuiabá, abundante em água e peixes. Nesse tempo, corria, tumultuado pelas inúmeras corredeiras daquele trecho, escondido na quietude sombria do saranzal de suas margens. Muitos peixes entreciscavam à flor d'água, debatendo-se no meio dos cardumes, que eram constantes e volumosos. Peixes tão grandes, que um pacu alimentava uma família inteira. Tão gordinhos, que eram fritos na própria banha e a sobra era empregada na iluminação, a base das lamparinas de azeite. Sítio ideal para se fincar raízes, era aquele. Até madeira de lei formava mata intrincada, abrindo-se em frondosas copas, como oásis verde na caatinga. Tão majestosas e folhudas eram no local, que o grupo de retirantes escolheu para altar da Virgem que os acompanhava por toda parte. Cravado no seu nicho, num tronco de uma lixeira nodosa, porém tão rejuvenescida de folhas verdes e festonadas, todos se ajoelharam para render homenagem a Santa Padroeira. No dia seguinte, qual não foi a surpresa dos madrugadores, ao se lhes deparar com o rústico altarzinho da virgem, envolvido por tenro brotos, que por encanto, despontaram durante a noite. O milagre foi patenteado pelo fato de, a única vaca leiteira com o seu bezerro novo, terem passado diante do nicho, não só respeitando os brotinhos verdes, como pela reverência que fizeram diante da imagem, inclinando-se em genuflexão. E como toda caravana tem um chefe, o maioral do grupo, advertiu-os a meditar sobre estes acontecimentos, rogando à Virgem que reavivasse, em seus corações a fé cristã, propondo, ao mesmo tempo, chamá-la de Senhora das Brotas. E a Nossa Senhora das Brotas continuava a velar pelo seu povo, a tal ponto que, ao cair a vaquinha num precipício e jazer inerte, o pai de uma criancinha, órfã de mãe, e cujo único alimento era apenas o leite dessa vaca, o pai, repetimos implorou-lhe a vida do animal, com tanta piedade, que logo este se pôs a mexer, ergue-se, sacudiu a poeira do chão e procurou uma senda para se libertar do abismo. Neste lugar prosperou a freguesia de Nossa Senhora das Brotas. E no lugar do velho tronco, o altar da Virgem, ergue-se uma capela simples, porém cuidada zelosamente pelos fiéis. NOTA: - Lenda fornecida pelo escritor Feliciano Galdino, no seu livro Lendas Mato-grossenses

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